Diário de Bordo - Sérgio

 

25/08/2006

Acordei bem melhor e animado. Logo estava fazendo a navegação para a Aratu-Maragogipe. Tomamos um ótimo café da manhã e aproveitei para fazer nossa inscrição na Refeno (regata Recife-Fernando de Noronha), enquanto as crianças faziam seus diários. Montamos toda a aparelhagem de balão, pois, se houver oportunidade, pretendemos levantá-lo. Fomos para o clube e as crianças brincaram bastante na piscina. Peguei nosso kit de regata do barco e aproveitamos para tirar fotos junto ao “Aleluia” e ao “Três Marias”. No clube, aproveitei para ver a chegada dos velejadores da Aratu-Maragogipe, inclusive os lindos “saveiros de pena”. Conheci no clube o Antonio Lopes, que é sócio do Pindá Iate Clube e que veio no “Kaká-Maumau”, veleiro também de Ilhabela. Voltamos ao barco para almoçar e comemos no cockpit vendo os barcos conhecidos chegarem para a regata e, entre eles, o “Kanaloa” do Torres. Quando retornamos ao clube, conhecemos dois velejadores do lindo barco “Pangea”. Um deles é paulista e logo estávamos brincando e conversando. Ao chegar ao clube, logo começamos a encontrar conhecidos. Os primeiros foram os amigos Edmar e Zezinho, de Ilhabela. Foi ótimo encontrá-los e conversamos bastante com eles, contando várias histórias da viagem. Eles me falaram que as crianças mudaram bastante, coisa que eu não percebo muito pela convivência diária. Também nos contaram que cortaram as árvores centenárias que ficavam em frente à Vila em Ilhabela. Pobres árvores, pobre Ilhabela e pobre povo que não soube votar e ficou sem as árvores! Procuramos uma mesa para ficarmos e logo encontramos o Torres. Mais um dedo de prosa e retornamos à nossa mesa. Ao lado de nós havia uma mesa com duas moças: uma que a Carol conheceu em Parati e bateu uma foto dela, que mandamos por e-mail, e outra de um catamarã que convidou a Carol para conhecer o barco numa certa ocasião, mas que não pudemos ir. Ao lado delas, com outra moça um rapaz de camisa verde. Daí a pouco, o rapaz de camisa verde levantou e veio até nós: era o Valmir do Fast 345 Radum, de Ilhabela. Ele é muito amigo do Nelsinho, grande amigo nosso, e, apesar de eu já ter conversado com ele por telefone várias vezes, nunca havia conseguido conhecê-lo pessoalmente. Muito simpático, ele nos apresentou a Mariana, que conheceu subindo subindo o Costa Leste. Conhecemos também o Antônio e o Maguila da escuna Horizonte, a Cristina que havia velejado com o Dimitri a regata Vitória-Trindade, todos muito simpático. Cumprimentamos o Aleixo Belov e o comandante Miranda da Capitania dos Portos, que também estavam no coquetel. Em pouco tempo chegava também o Carlos e a Sandra do outro Fandango, com o Bruno, que foi nosso tripulante em várias regatas em Ilhabela. Encontramos ainda o Alexandre e a Maria Alice, sempre muito simpáticos e atenciosos conosco. Faltou luz e a reunião de comandantes atrasada. Ainda bem que o pessoal do som havia montado um palco separado com gerador e holofotes! Depois de algum tempo, montaram alguns holofotes numa garagem náutica coberta, que estava vazia, mas com mesas. Fui à reunião, que foi difícil por faltar um microfone e pelo barulho da banda que tocava. Encerrada a reunião, resolvi sair da mesa em que estávamos e que era no meio do “confusão” e fomos para onde havia sido a reunião de comandantes. Lá conhecemos o Hugo, Gislaine e a Talita do “Beduína” e revimos o Rodrigo do “Cavalo Marinho”, conhecendo finalmente sua esposa Márcia e filhos. O pessoal é muito simpático e como estamos todos na mesma situação, começando a viver a bordo, ficamos trocando experiências falando de nosso modo de viver atual. Os Hagge chegaram e formamos um grupo animado, com as crianças brincando e os adultos em longas conversas, inclusive filosóficas. Falamos muito de “valores”, não os reais gastos para fazer essas viagens, mas sim aqueles que estamos dia-a-dia anexando nas nossas vidas com as experiências que estamos tendo. Todos deveremos voltar bem mudados de nossas respectivas viagens e sentimos que estamos conseguindo encontrar o que viemos procurar nesse nosso modo de viver “marginal” (como diz o Rodrigo, “marginal de à margem da sociedade de consumo, bem na beiradinha!”) e diferente. Já era quase meia-noite quando fomos para o barco. Achei que não iria conhecer muita gente que não estivesse no coquetel e acabamos conhecendo muita gente. Muita gente parecida, não na aparência ou no modo de se vestir, mas na alegria sempre presente, onde o sorriso no rosto é uma constante e a vontade de ajudar está sempre presente, enfim, gente de bem com a vida. Chegando no barco, mesmo cansados e com sono, a primeira coisa que fizemos foi colar no livro de visitas uma foto que os Hagge nos trouxeram e um presente do Victor: a história de como ele nos conheceu! Da história, tomo a liberdade de transcrever o final: “Se vocês (Sérgio, Jonas e Carol) estiverem lendo essa história, saibam que vocês são meus melhores amigos, e que nunca esquecerei vocês. Com carinho, do amigo Victor.” Nós também nunca o esqueceremos, Victor, e esperamos nos encontrar muitas e muitas vezes!

 

26/08/2006

Mesmo indo dormir tarde, depois da bela festa de ontem, hoje é dia de regata! Acordamos cedo, tomamos café e arrumamos o barco. Coloquei toda a aparelhagem do balão e fomos para a raia ver a largada da primeira bateria, onde escunas e saveiros dariam o show. O dia estava lindo e prometia vendo e sol. A primeira largada foi muito bonita e ficamos vendo os barcos desfilarem na frente da ilha de maré. Esperamos uma hora treinando e vimos a largada da segunda bateria, um pouco mais concorrida, às onze horas. Não vimos o barco dos Hagge e ficamos preocupados, mas com quase duzentos barcos na raia, não era fácil achar os barcos. Estávamos nos preparando para nossa largada quando vimos os Hagge chegando à reboque. O motor esquentou de novo. Eles largaram um pouco atrasados, mas seguiram em direção à Maragogipe num bom vento. Preparamo-nos para nossa primeira regata apenas os três e logo estávamos largando muito bem e fora da confusão quando a juria começou a gritar no rádio “Chamada Geral”! Todos tivemos que voltar para uma nova largada. Fiquei próximo da juria que começou o procedimento de largada usando apenas as bandeiras e uma buzina fraca. Resultado: um monte de barcos não viu o início do novo procedimento e logo largávamos novamente bem e fora da confusão. A primeira perna foi de contravento forte, mas tivemos que fazer apenas dois bordos. Chegando na primeira bóia, arribamos para a entrada do canal que dá para Maragogipe, mas não levantamos balão. O vento estava muito forte e, se houvesse algum problema com o balão, não teríamos mão suficientes para arriá-lo. Vários barcos levantaram o balão. Alguns sabiam usá-lo. Outros atravessavam, colocavam-no para “pescar”, etc. Fomos seguindo as marcas do percurso, mas nem todos os barcos o fizeram. Isso é assim mesmo: em regatas festivas o pessoal nem sempre cumpre as regras direitinho. Com medo de não chegar, alguns deixam bóias e ligam motores, mas mesmo assim cruzam a linha de chegada! Mas isso não tira o brilho da festa, que foi muito bonita, apesar de alguns comandantes ficarem estressados no rádio. Noronha é a mesma coisa. No meio da noite, muitas embarcações ligam o “vento de porão” para chegar mais rápido. Lembro que em 2002 um barco que havia ganhado o terceiro lugar foi “reclassificado” porque um dos tripulantes não achou justo e entregou que o barco ligou o motor uma boa parte do tempo. Fomos subindo o canal para Maragogipe, que é muito lindo. Muitas praias bonitas, mar liso, muita vegetação e história. Vimos um forte numa curva do rio que, sozinho, segurou uma esquadra portuguesa inteira na luta pela independência. Passamos ainda pelos lugares onde João das Botas, com rápidos e leves saveirinhos atacava as naus portuguesas que, sem mobilidade, eram alvos fáceis. Nós também, leves e ágeis fomos subindo o rio com pouco vento, passando vários barcos. Cruzamos com os Hagge já perto da linha de chegada. Cruzamos a linha eram cinco horas passadas e voltamos para ajudar a rebocá-los após eles cruzarem a linha. Arrumamos um bom lugar em frente ao píer para ancorarmos, no meio de 200 barcos, mas nossa âncora não queria segurar de jeito nenhum. Amarramos os barcos a contra-bordo e, com duas âncoras, ficamos firmes. Nos arrumamos para logo descer em terra. A maré começou a virar e vimos um bloco com uma grande escuna e umas sete lanchas amarradas ao lado dela vindo para cima de nós. A lancha mais externa passou raspando e tivemos sorte, coisa que faltou à um Fast 310 que estava perto de nós. O bloco foi todo para cima dele. Não sei como se safou, mas quando olhei de novo já estava tudo bem. Chamamos um dos barquinhos que nos pegou à todos. Afastamos do barco e logo o barquinho passava embaixo de uma lancha, quase enroscando no cabo da âncora. Bem, “foi uma pequena distração do timoneiro”, pensei. Não passou um minuto e meio e novamente ele estava embaixo de outra lancha, só que desta vez não teve sorte: enroscou o leme no cabo de ancora. Comecei a ficar preocupado. Logo depois ele foi de encontro a uma canoa a remo com dois pescadores. Não parou e não desviou até bater nela! Fiquei preocupado mesmo quando vi algo chapinando na água e o barco indo direto para cima. Ele passou a menos de meio metro de um nadador ao lado de uma lancha! Vocês acham que estávamos passivos a isso tudo? Não! Todos avisavam, apontávamos e iluminávamos (o Antonio Carlos estava com uma lanterna), mas o cara ou era cego ou estava fazendo de propósito. Quando chegamos foi um alívio! O que achei engraçado é que o cara foi o primeiro a descer do barco e sumir! Fomos jantar e uma fila lenta nos esperava. Comemos, bebemos e fomos dar uma volta pela cidade. Era a festa do padroeiro e havia muita gente e muitos tipos de música rolando. Subimos até a Igreja Matriz, muito bonita, onde estava se realizando uma missa. Passamos num parquinho de diversões, mas as crianças não brincaram em nada. Voltamos ao barco, passando na frente daquelas casinhas que já identifico como típicas das pequenas cidades bahianas. Chegamos no começo da premiação, mas, enquanto eu estava procurando os resultados, um maluco soltou fogos bem em cima do pessoal. Cheguei lá e todos estavam traumatizados com o susto, barulho e pequenas queimaduras. Logo o maluco voltava com outro foguete e, protestando quando o mandaram para longe, soltava-o novamente ao lado do palanque! Resolvemos ir embora para o barco e saberemos os resultados depois pela internet. Na hora de ir embora, um outro barquinho nos obrigou a entrar no mangue e queria ir embora sem levar à todos. Só parou depois de uns berros meus, cuja paciência já havia indo embora de vez! No barco, conversamos um pouco e logo fomos descansar da velejada e das aventuras do dia. Valeu!

 

27/08/2006

Acordei às seis, na virada da maré. Fiquei observando a girada dos barcos e, depois que tudo estava bem, tentei dormir, mas havia perdido o sono. Logo chegou o Crispim, que havia vindo com os Hagge ajudando-os, e resolvemos recolher as âncoras e começar a descer a correnteza. Fomos à contra-bordo mesmo e logo estavam quase todos acordados. A Adriana fez um café da manhã para nós e, após comê-lo, o movimento das lanchas não nos deixou mais seguir lado a lado. Passamos a rebocar o Gabushí pela popa e o André foi no nosso barco. Passou pela gente os simpáticos velejadores do “Pangea”, que nos passaram dois pacotes de M&M’s que compraram para as crianças! Conversamos bastante e as crianças ficaram brincando o tempo todo. Motoramos muito tempo e o Andréa ia me mostrando os lugares legais de ancorar da região. O vento não aparecia e atravessamos a Baia de Todos os Santos ainda a motor. Quando chegamos perto da bóia de entrada do canal para Aratu, o vento entrou gostoso, então levantamos as velas. O Gabushí quis velejar sozinho: estourou o cabo e saiu navegando bonito! O André viu, pela primeira vez, o seu barco velejando “de fora”. Chegamos na Ilha de Maré, onde paramos para conhecê-la. Descemos, andamos um pouco pela ilha, tomamos um coco e voltamos ao Gabushí. Após o almoço, feito pela Virna e Adriana, voltei ao Fandango e nos encostamos novamente para o reboque. Quase eu provoco um acidente, primeiro ao me aproximar rápido demais (como a correnteza estava forte, me pareceu que o Gabushí estava derivando muito rápido para terra após soltar a âncora) para passar o cabo, com os barcos quase batendo, e depois com o cabo que não agüentou o tranco e estourou. Girei novamente, passei outro cabo, desta vez mais devagar e tudo correu bem. Entramos no canal e antes do final da tarde estávamos na Marina Aratu. Acabamos ficando por lá mesmo e, após nos despedir dos Hagge e marcar o novo encontro para quarta-feira, ainda encontramos o Alexandre e a Maria Alice na linda escuna verde onde correram a regata. Conhecemos o comandante da escuna, também chamado Alexandre e vimos o maravilhoso barco por dentro! Espaço é o que não falta. É maravilhosa! Tomamos nosso banho, pegamos um lindo presente que o Carlão e a Sandra havia deixado para a Carol (três biquínis que a Carol adorou, com um lindo bilhete para ela) e voltamos ao Fandango, onde jantamos uma sopa de lentilha e logo estávamos dormindo.

 

28/08/2006

Acordei às oito e comecei a trabalhar no computador. Deixei as crianças dormirem e elas acordaram às dez horas. Tomamos um ótimo café e, após arrumarmos tudo, falei com os responsáveis pela Marina Aratu, que foram muito gentis e não nos cobraram a diária. Saímos em direção à Itaparica e logo estávamos velejando. Fomos bordejando pelo canal de saída da marina e depois tomamos o rumo paralelo à ilha de Maré para ir até a última bóia de saída. Ligamos um pouco o motor para não ter que fazer muitos bordos, pois a maré estava contra e logo depois de contornarmos a bóia pegamos um través delicioso até Itaparica. Fomos nos revezando no leme e apostando quem fazia o Fandango atingir a maior velocidade no percurso. O campeão foi o Jonas, com 8,5 nós! O dia estava maravilhoso. Muito sol, com um vento ótimo para velejar, como sempre acontece nesta baía maravilhosa. Chegamos em Itaparica às quatro da tarde e logo na chegada conhecemos uma pessoa da qual já havíamos escutado falar muito: o Luís Poesia! Realmente, ele é a simpatia que todos falam! Conhecemos também o Chico, do Corall, que está subindo a costa também. Sempre víamos o barco em Parati, mas não chegamos a conhecê-lo lá. Logo fomos para a praia para tomar um banho de mar e curtir o pôr-do-sol. Quando começou a escurecer fomos comer pastéis na mesma pastelaria da outra vez, “Fundo de Quintal”, e comemos três pastéis cada um! Retornamos à marina, tomamos um bom banho e, quando íamos para o barco, conhecemos a Sandra, que está viajando com o Poesia. A incrível coincidência é que ela é irmã do Marcelo, do Rio de Janeiro, que nos convidou para ficar no Iate Clube do Rio de Janeiro! Êta mundo pequeno! Conversamos um pouco e logo fomos para o barco fazer nossas obrigações e descansar. Ainda estamos cansados do final de semana corrido.

 

29/08/2006

Acordei cedo e logo comecei a arrumação. Enchi o tanque do barco e 46 garrafas com a água mineral do píer. Passei uma água por cima do barco, guardei o balão e logo estava tudo arrumado. Tomamos um excelente café da manhã e, perto da hora do almoço, nos despedimos do Poesia e do Chico, largando as amarras. Saímos de Itaparica sem vento, mas pouco depois ele entrava. Velejamos quarenta minutos e o vento virou na cara. Fomos usando o motor até chegarmos no CENAB. Nos arrumaram uma vaga próxima ao Cavalo Marinho, Beduína e Radum e logo as crianças estavam brincando com a Talita, Nick e Rafael. Bati um papo com o pessoal e depois fui ao mercado sozinho, pois minha tripulação preferiu ficar brincando. Retornei e fizemos um lanche, indo tomar um sorvete em seguida, com o Rodrigo, o Nick e o Rafael. Demos uma andada pelo Pelourinho e paramos para ver o conjunto infantil da Didá. O Rodrigo se surpreendeu ao ver as crianças tocando, pois, quando nos aproximamos, o som parecia ser de adultos. Pouco depois o Rafael começou a dormir e foi o sinal para voltarmos ao barco. Acessei um pouco a internet e dormimos cedo.

 

30/08/2006

Acordei cedo para arrumar as coisas para a travessia para Maceió. Após o café, fui comprar foguetes de sinalização que faltavam (como iremos fazer uma navegação muito longe da costa na Refeno, a Marinha exigiu que todos os barcos tivessem pirotécnicos de navegação oceânica) e troquei uma manilha da roldana da adriça da genoa que estava fraca e se dobrando. Conversei com o Hugo e o Rodrigo e em seguida troquei o óleo do motor. Fomos convidados pelo Valmir para conhecer o Radum, seu Fast 345. O barco está muito bonito e é muito confortável. Ele ia para Itaparica, mas não pode ir, pois seus instrumentos deram problemas. Liguei para o Dadi do Trawler Jade e ele veio nos visitar. Ele comeu um feijão conosco e matamos saudades, batendo um bom papo. Depois ficamos conversando com o Hugo e com o Rodrigo, pois todos eles vão para o Caribe e estão combinando de seguir juntos. Eles ficaram me “tentando” para ir também! Patrícia veio se despedir de nós e prometemos ligar quando voltássemos. As crianças brincaram muito com o Nick e a Talita e foram convidados para dormirem no Cavalo Marinho (Jonas) e Beduína (Carol). Os Hagge chegaram para se despedir de nós cheios de presentes, inclusive comida para a nossa travessia! Gentileza é o que não falta neles! Levaram-nos num restaurante chamado “Centola”, onde comi caranguejo e lambreta pela primeira vez. São ótimos! Eu já havia comido patinhas de caranguejo e muitos siris na minha vida, mas o caranguejo inteiro é melhor. Conversamos muito até tarde e voltamos para o barco. Pelo horário adiantado que chegamos, novamente as crianças não conseguiram dormir no Cavalo Marinho e no Beduína.

 

31/08/2006

Durante a noite balançou um bocado! Acordei com um tranco forte e levantei rapidamente. O suporte de motor de popa havia sido esmagado contra o píer. Como a maré abaixou muito, o cabo de proa ficou mais comprido e o balanço fez com que o barco batesse no píer. Cacei o cabo de proa e voltei a dormir. Acordei cedo, com muito balanço ainda. Um dos cabos de popa havia arrebentado também. Troquei-o por um bem mais grosso. Comecei a arrumar tudo para sairmos, peguei a previsão de tempo e vi que o mar está grosso e deve melhorar à tarde e amanhã, com o vento caindo de 25 para 15 nós. Logo o André Hagge me ligou, preocupado, avisando que estava vendo o mar e que estava muito grosso. Tomamos o café e fiquei na expectativa do tempo melhorar. Como o Jonas também está meio gripado, talvez fosse melhor deixar a saída para amanhã. Fomos deixando o dia passar. As crianças ficaram brincando com os amigos do Beduína e do Cavalo Marinho, recebemos a visita do Valmir e da Mariana, que deixaram lindas mensagens em nosso livro de visitas e separei tudo para viajar. No começo da tarde, o Jonas ainda estava “de farol baixo” e resolvi deixar para sair amanhã cedo mesmo. Descansei bastante e comemos a deliciosa torta e o maravilhoso pernil que os Hagge nos deram. Ainda sobrou bastante e teremos uma travessia muito “saborosa” amanhã. O Valmir conseguiu que arrumassem os instrumentos mais importantes do Radum e amanhã irá para Itaparica. O tempo foi melhorando e no final da tarde a ondulação já era bem menor e o vento caiu muito. Tomamos um banho gostoso e fomos convidados para comer cachorros-quentes no Cavalo Marinho. Conversamos muito e ficamos sabendo mais de nossos novos amigos, que estão realizando sonhos parecidos com o nosso. As crianças se identificaram muito e nós, adultos, também. Eles tentaram me convencer de novo a ir para o Caribe, mas acho que para mim não dá (ainda!). Após uma noite muito gostosa, com bom papo e muitas risadas, fui dormir sozinho no Fandango (o Jonas, já bem melhor, ficou no Cavalo Marinho com o Nick e a Carol foi para o Beduína com a Talita).

 

01/09/2006

Acordei cedo, com o dia meio nublado e logo comecei a arrumar as coisas para a partida. Fui até uma padaria e comprei pães franceses para comermos no caminho. Acertei a conta no CENAB e agradeci toda a atenção que recebemos nos dias que ficamos ali. Liguei para a Capitania dos Portos da Bahia, agradeci a atenção e informei nossa saída. Passei no Cavalo Marinho e no Beduína para chamar as crianças, que ainda estavam dormindo. Conversei um pouco com o pessoal e logo estávamos no barco fechando gaiutas e pegando as roupas de tempo e cintos de segurança. Estava sendo difícil sair daquele porto. Salvador vai ficar nos nossos corações. As crianças começaram a falar que era sexta-feira (dizem que não se deve começar grandes viagens numa sexta, mas a nossa é a continuação da viagem) e que era melhor deixar para amanhã. Liguei o motor e... não estava circulando água do motor! Puxa, até o Fandango estava se recusando a sair! Troquei rapidamente o rotor de bomba d’água e a água começou a circular bem. Antes que acontecesse mais alguma coisa, com a tripulação “de bico”, pois não queriam deixar os amigos que estavam no píer para soltar nossas amarras e ainda de uma forma um pouco mal educada, pois não despedi direito do Valmir e da Mariana, que nos presentearam com um livro no píer, zarpamos! Fomos deixando para trás o CENAB, Forte São Marcelo e os grandes prédios e pequenas casas coloridas que são o retrato fiel de Salvador. Seguimos para a barra, onde passamos entre o perigoso banco de Santo Antonio a costa e fomos vendo do mar o lugar pelos quais passamos em terra: Barra, Farol da Barra, Rio Vermelho, Abaeté, Itapoã, etc. A saída da barra não foi fácil. O mar estava alto e jogava muito o barco. Ainda bem que não tentamos sair ontem! Certamente teríamos de ter retornado. Fomos nos afastando da costa com as ondas balançando o barco e nós orçando num vento fraco ainda usando o motor. Após duas horas entrou um vento gostoso e desligamos o motor. Era uma orça folgada que fomos aproveitando para nos afastar ainda mais da costa. De tarde o sol abriu de verdade e o vento girou para través (a melhor direção para nós). O Fandango estava velejando muito bem e no través de Itapoã cruzamos com algumas baleias tímidas, que se mantiveram distantes. Comemos a deliciosa torta que os Hagge nos mandaram. É ótimo ter alguma coisa pronta para comermos em travessias. Fica muito mais fácil do que cozinhar. Pouco depois apareceram golfinhos, que ameaçaram seguir o barco, mas voltaram. Como o vento estava muito bom e eu queria aproveitar bem o começo da travessia, pois a previsão era do vento diminuir depois de algum tempo, não voltamos para vê-los melhor. No final da tarde, chamei a Carol e fui dormir um pouco. Ela viu o lindo pôr-do-sol e, no comecinho da noite, assumi o meu longo turno e ela foi dormir. O Jonas me ajudou no começo da noite, e pude dormir mais uma horinha. A noite transcorreu tranqüila e sem novidade. Uma meia lua nos acompanhou metade da noite, iluminando nosso caminho. Quando ela sumiu, deixou o céu todo estrelado, com algumas estrelas cadentes riscando-o de vez em quando. O vento continuou excelente, em torno de 15 nós pelo través. Estávamos com todo o pano e andando muito. Eu me surpreendia toda vez que ligava o GPS, com surfadas de quase dez nós e quando fazia navegação, pois a média de quase todas as pernas era sete nós e meio, nunca abaixando de sete. “Voamos baixo” a noite toda, mas confortavelmente, sem mar nos chacoalhando.

 

02/09/2006

Após uma noite de velejada tranqüila, chamei a Carol para assumir o turno da manhã, logo que o sol estava se levantando. Durante a noite, eu fico aguardando ansiosamente o começo do dia, para poder dormir. O dia amanheceu muito bonito e um pouco mais cedo do que eu esperava e logo entrei para a cabine. Dormi uma hora e meia e acordei com o Jonas me chamando, pois o vento tinha acabado. Ligamos o motor e continuamos navegando. Às nove levantei outra vez e ficamos impressionados com a cor do mar. O “azul profundo” ou, como os polinésios o chamam “Moana”, nos cercava. Fiz a navegação e vi que a profundidade no local era de 1.880 metros. Paramos o barco, pegamos nossas máscaras e entramos na água, um de cada vez. É impressionante! Parece que o barco levita e nós vemos os raios de luz do sol entrarem na água em fachos e se perderem no azul infinito! A água estava quente e até o Jonas entrou. Após esse gostoso banho de mar, as crianças ficaram mais dispostas e aquela preguiça normal de início de travessias se foi. O Jonas pegou o livro de ciências dele e veio me mostrar um texto falando desse tom azul de água e o seu porquê. Gostaria de saber quantas crianças, das milhares que usam esse livro, tiveram a chance de ver pessoalmente esse fenômeno e constatar o seu porquê! Coloquei a vara com a isca para corrico e voltei para dormir mais um pouco. Algum tempo depois o Jonas me chamava gritando, pois a havíamos pegado um peixe. Desaceleramos o motor, peguei a vara e fui puxando com cuidado. Algum tempo e muito esforço depois, vimos a linda silhueta azul e dourada de um grande dourado que estava preso à nossa linha. Devia ter uns 4 ou 5 quilos. Trabalhei o peixe até encostá-lo no barco. Depois de encostá-lo, ainda briguei mais uns quinze minutos com ele, vendo-o direitinho na água transparente. Quando o Jonas pegou o puçá para embarcá-lo, ele tentou pegá-lo pela frente e não por trás. O anzol de enroscou no puçá, o peixe deu um tranco assustado e foi-se embora. O anzol abriu, pois não resistiu ao tamanho do peixe! Da próxima vez, vou pegar o arpão e dar um tiro no peixe quando ele estiver próximo, para evitar a perda! Consolamos o Jonas, que queria comer peixe fresco e seguimos viagem a motor. Às duas horas da tarde o vento entrou novamente. Novamente começamos a velejar com todo o pano, mas, no início da noite, resolvi diminuir as velas para não chegarmos de noite em Maceió. Mesmo com a mestra no segundo riso e a genoa com um pedação enrolado, continuamos velejando rapidamente. A noite, estrelada e deliciosa, passou sem novidades.

 

03/09/2006

Tive muito sono quando era uma hora da manhã. Chamei o Jonas, que assumiu meu turno. Quando estamos velejando à noite, todos devem estar com o cinto de segurança atado. Confirmei se o Jonas havia prendido seu cinto devidamente e fui dormir, com a recomendação de ele não soltar o cinto sem me chamar. Acordei com o meu despertador tocando uma hora depois e voltei para o meu turno. Estávamos aterrando agora e, pouco depois, comecei a ver alguns barcos de pesca. Durante a nossa viagem, como andamos com mais de mil metros de profundidade, não encontramos barcos de pesca. Apenas alguns poucos navios passaram por nós e esses são sempre muito fáceis de ver. Agora que chegávamos em profundidades de 50 a 60 metros, os barcos pesqueiros reapareciam, pequenos e com suas luzes muito fracas. Vi vários deles, mas não precisei desviar de nenhum. O vento continuava bom, mas a velocidade do barco já estava compatível para chegarmos de dia em Maceió. Às cinco da manhã, com o dia nascendo, o vento acabou. Víamos toda a cidade de Maceió bem à nossa frente. Liguei o motor e fomos nos aproximando com o auxílio do GPS e reconhecendo o litoral com o uso da carta náutica. Em meia hora estávamos pegando uma poita. Chegamos muito bem e, após 45 horas de navegação, sendo 9 no motor e 36 velejando magnificamente, confirmamos que o “azar” da sexta-feira realmente não acontece em continuações de viagem (ufa!)! Liguei pelo rádio para a Capitania dos Portos, que me esperava apenas no final da tarde para avisar da nossa chegada. Deitei às seis e dormi imediatamente, sentindo-me seguro na poita. Dormi até as 9 horas e, logo que levantei, começamos as atividades de chegada. Avisei da nossa chegada para o clube e liguei para o Bira, que auxilia todos os velejadores de passagem por Maceió. Ligamos também para nossa amiga Simone, que mora atualmente em Maceió. Logo o Bira mandou seu sobrinho, Bruno, nos buscar e quando estávamos chegando em terra já nos esperavam a Simone e a Laura. Fazia muito tempo que não as víamos e foi ótimo rever a Laura, que cresceu muito e está um “xerox” da mãe. Matamos saudades, contamos novidades, falamos dos amigos e parentes e fomos passear. Elas nos levaram para a hípica (a Laura é louca por cavalos e pratica saltos) e depois fomos para a Praia do Francês. Vimos as lagoas que geraram o nome “Alagoas” no caminho e tomamos um ótimo banho de mar na bela praia. Maceió é muito bonito e as praias que ficam perto da cidade são muito bonitas e limpas. A exceção é feita no cantinho onde desembarcamos, pois todo o lixo da cidade parecia concentrado ali. É incrível que aquele pedaço, ao lado do principal iate clube da cidade, mas na frente de uma favela, tenha sido esquecido pelo pessoal de limpeza pública. Não é muito bonito também o lugar onde pegamos uma poita, mas o resto da cidade compensa muito. Depois da praia do Francês, fomos até um centro de treinamento de equitação onde a Laura iria montar. Foi engraçado ver a Simone toda perdida em Maceió (estão aqui apenas a duas semanas!). Ficamos conversando com a Simone e vendo a Laura saltar. As crianças adoraram ver e o Jonas começou a falar em procurar uma hípica em Ilhabela! A Laura salta muito bem e acho que irá fazer sucesso nos campeonatos regionais de Maceió. Fomos comer uma pizza e retornamos para o iate clube. Nos despedimos de nossas queridas amigas, que, mesmo após um longo tempo sem vê-las, quando as revemos parece que o tempo não passou, pois a amizade continua forte e a alegria de revê-las, grande. Prometemos voltar em breve para ficarmos mais tempo. Conhecemos, finalmente, o Bira, que nos levou até o Fandango, onde, assim que chegamos, só fizemos escovar os dentes e dormir quase imediatamente.

 

04/09/2006

Dormimos bastante, até o calor do dia nos acordar. Tomamos nosso café da manhã no barco e depois descemos em terra para ir tomarmos um bom banho de água doce. Nos apresentamos na secretaria da Federação Alagoana de Vela e eles foram muito gentis conosco, não nos cobrando diárias da poita. Após o banho, fomos fazer uma visita à Capitania dos Portos de Alagoas. Fomos recebidos pelo sub-oficial Brito, que nos mostrou toda a Capitania, um prédio de 1955 muito bonito e muitíssimo bem conservado. Ele nos pediu que retornássemos à tarde, para conhecer o Capitão-dos-Portos, que estava fora no momento. Voltamos ao barco, fizemos nosso almoço e ficamos esperando uma pessoa que ficou de nos pegar às duas horas da tarde, pois o Bira não poderia ir. Quando eram três horas da tarde, como o sujeito não havia aparecido, liguei para o Bira, que deu um jeito de ir até a praia e arrumar um transporte para nós. Um pouco atrasados, corremos até a Capitania e conseguimos chegar à tempo da visita. Conhecemos, então, o simpaticíssimo Capitão-dos-Portos Henrique Tadeu dos Santos. Conversamos muito sobre nossa viagem e agradecemos a ajuda prestada, de acompanhar nossa saída e chegada. É muito bom ver Capitães-dos-Portos jovens, cheios de energia e atuantes, como tem sido em todos os portos onde paramos. Ele nos convidou para um pernoite na Capitania na nossa volta à Maceió, num quarto que eles tem para isso. Batemos fotos e, na saída, ficamos conversando com a Dona Vera, secretária do Capitão, e outras pessoas. Fomos convidados para fazer uma palestra na Capitania na nossa volta. Já vou começar a prepará-la! Fomos para a federação um pouco atrasados, onde nos esperava nosso amigo João Sombra, do veleiro Guardian. Foi muito bom revê-lo! Conversamos bastante e, tomando cervejas e refrigerantes, escutamos suas histórias sobre os maravilhosos lugares por onde ele passou. João nos presenteou com seu último livro “Conversando com o Guardian” e o Jonas já começou a ler. Desta vez, as crianças tinham uma surpresa para ele: mágicas! As crianças fizeram várias mágicas para ele e ele aproveitou para fazer algumas para elas também. O Bira nos levou de volta para o barco às sete. Agradecemos a atenção especial que ele nos deu e, após responder alguns e-mail’s, fomos dormir ainda cansados da última travessia. Amanhã pretendemos ir para Recife.

 

05/09/2006

Acordei cedo (é sempre assim em dias de travessia: o sono foge) e logo estávamos tomando o café da manhã. Arrumamos todo o barco para seguirmos viagem e aguardamos um pouco, pois o vento estava forte de nordeste. Saímos faltavam quinze minutos para as onze horas e, antes, avisamos de nossa saída a Capitania e o clube. O simpático Bira entrou no rádio e nos desejou boa viagem. Soltamos a poita e, assim que viramos o barco, já desligamos o motor, pois o vento nos empurrava forte. Quando viramos na entrada do porto, para seguir nosso rumo previsto, o vento ficou quase na cara e fomos em direção ao mar alto, nos afastando da costa, em rumo perpendicular à ela. Quando nos afastamos o suficiente, após duas horas e meia de velejada, demos um bordo para começar a avançar em direção à Recife. O vento forte e a correnteza, não permitiam que avançássemos quase nada. Vimos, então, duas baleias bem na frente de Maceió e o que é mais incrível: duas jubartes! Que legal que elas estão subindo até aqui. Pouco depois vimos alguns golfinhos, também perto do barco. Continuamos na orça apertada, com a mestra risada e o medidor de velocidade do vento marcando entre 19 e 20 nós! Estava desconfortável e andávamos avançando pouco e retornando à costa. Entrei para descansar um pouco, me preparando para o longo turno da noite. Pouco depois, senti o barco ficar menos inclinado e perguntei para as crianças como estava o vento. Eles disseram que havia mudado e, quando saí, vi o que a previsão tinha prometido: o vento girara para leste, favorecendo nosso avanço. Giramos o barco 20 graus e conseguimos seguir paralelamente à costa, mesmo orçando muito. No final da tarde, o vento diminuiu um pouco e as ondas também, sobrando apenas algumas pequenas ondas curtas. Anoiteceu e uma linda lua quase totalmente cheia acompanhou toda a nossa noite de viagem. Com o vento gostoso, o tempo quente e a noite estrelada e enluarada, fomos avançando. Não havíamos conseguido nos afastar da costa tanto quanto eu queria, para fugirmos dos barcos de pesca. Mesmo assim, os muitos barcos de pesca que vimos estavam todos muito bem iluminados e a noite clara e mar liso nos ajudou a vê-los durante toda a noite. Como é bom e confortável velejar à noite no nordeste do país!

 

06/09/2006

A noite foi muito tranqüila e o avanço foi todo à vela. Quando amanheceu, fiz a navegação e chamei a Carol para assumir o turno. Ela estava muito disposta e assumiu o comando, enquanto eu entrava para dormir. Pouco depois, o Jonas acordou e ficou com ela. As sete, o vento diminuiu muito e girou, ficando fraco pela popa. Ligamos o motor, pois eu havia escutado no rádio uma chamada geral feita pela rádio Maceió falando de ventos muito fortes na próxima noite. Fomos avançando a motor e vela, com uma correnteza nos segurando quase um nó. Colocamos a linha na água para tentar outro peixe. Vários navios passaram perto de nós e fomos nos aproximando da costa. As velas estavam batendo muito e resolvi retirá-las. Quando estávamos bem perto de Recife, novamente outra surpresa: duas jubartes ao lado da cidade! Entrando no porto protegido, ainda vi dois golfinhos nadando na água turva, bem ao lado do farolete de boreste. Entramos no porto e passamos pelos navios, pelas docas e, do lado oposto, pelas esculturas de Brennand, escultor muito famoso aqui. Demos a sorte de chegar no ponto mais alto da maré enchente, permitindo que entrássemos diretamente para o Cabanga, sem ter que esperar ancorados no porto pela subida dela. Fomos procurando as balizas e entramos devagar e sem problemas. No clube, o senhor Hélio nos recebeu e colocou-nos numa vaga ao lado do Macanudo, do Rio de Janeiro, que já conhecêramos em Salvador. Enquanto eu arrumava o barco e inflava o bote (na vaga onde ficamos, não tínhamos como descer diretamente em terra), as crianças fizeram o almoço. Nesta travessia de orça e mar agitado, comemos apenas frutas, bolachas e chocolates. Almoçamos muito bem e, após um descanso de 10 minutos pós-almoço, entramos no bote e remamos os 40 metros que nos separavam da rampa para o clube. Comecei a mostrar o clube para as crianças e passamos ao lado de uma piscina infantil. Eles falaram: “- É essa a grande piscina do Cabanga que tinham falado, Pai?”, com uma cara de decepção. Eu disse, disfarçando, que sim. Vi um barco conhecido fora da água: o Nativo, que foi de um conhecido nosso, o Beto de Ilhabela. De repente, de cima do barco me chamam. Era o sobrinho desse conhecido, rapaz que havia administrado uma pequena marina onde o Fandango ficava. Conversamos um pouco e logo reconheci no “mascarado”, que fazia um trabalho com resina no barco, o irmão do Beto de Ilhabela, Jorge. Conversamos um pouco, contei sobre nossa viagem e fomos para a frente do clube. Passamos ao lado de um veleiro de verdade que enfeita a praça principal do clube. Quando chegamos na frente do clube, um suspiro de alívio e satisfação partiu das crianças: viram a belíssima e grande piscina do clube! Enquanto eu dava um pulo na secretaria para dar entrada do barco, eles foram para a água. Quando voltei, tomei uma ducha e entrei na água deliciosa! Como é bom, depois de uma travessia, água doce em abundância! Brincamos um pouco, eles fizeram alguns amigos e depois fomos tomar um banho de verdade. A água, apesar de não ser aquecida, era morna, deliciosa. O mesmo acontecia na ducha de fora e na água da piscina. Apresentei as crianças para o pessoal que conheci no clube e voltamos para o barco. No caminho, conhecemos um sócio do clube com quem conversamos um pouco. Ele tem duas gôndolas que fazem passeios nos canais de Recife, a chamada “Veneza Brasileira”. Encontramos ainda o Ricardo, outro irmão do Beto de Ilhabela e conversamos mais um pouco. Quando retornamos ao barco, deixamos o cansaço dominar e dormimos rapidamente e contentes. Estávamos em Recife, atravessamos vários estados na última semana e nossa próxima grande travessia seria para um dos lugares mais lindos do mundo: Fernando de Noronha!

 

07/09/2006

Tomamos nosso café e fizemos parte de nossas obrigações atrasadas pelas travessias: diários, estudos e responder e-mail’s. Quando eram onze horas, saímos e pegamos um ônibus para ir até o aeroporto buscar a Lu, que estava chegando para nos visitar. O ônibus passou pelo centro velho e podemos ver algumas construções muito interessantes, além das antigas pontes e um bonito forte. O ônibus fez o retorno e seguiu paralelo à praia de Boa Viagem. No ônibus vimos um surfista. Não sei como ele tem coragem de entrar na água da praia de Boa Viagem. Chegamos no aeroporto e o avião atrasou uma hora e meia. Acabamos almoçando lá mesmo e depois retornamos para o clube. As crianças brincaram na piscina com os barquinhos e depois fomos para o barco acabar nossas obrigações atrasadas, indo dormir bem cedo.

 

08/09/2006

Dormimos até tarde. As crianças desceram para ir à piscina do clube e para jogar bola. Depois descemos nós também e ficamos durante uma boa parte da tarde aproveitando o sol e a piscina. No final do dia fomos ao mercado Extra de ônibus e compramos as coisas que faltavam. Voltamos ao barco com uma lasanha para o jantar e, após comê-la, fomos dormir cedo.

 

09/09/2006

Logo que acordamos resolvemos ir à praia de Boa Viagem. Íamos pegar um ônibus, mas o Ricardo nos ofereceu uma carona. A praia é muito bonita! Havia muita gente na praia e muitos também dentro da água. Apesar das placas avisando de ataques de tubarões, como a maré estava bem baixa e os recifes represaram muita água do mar em piscinas, entramos nessas piscinas, nos sentindo seguros. Conversamos com um pescador, que disse ter pescado três cações pequenos. Ficamos na praia e aproveitamos para tomar cocos, comer queijos-coalho, passear na praia e tomar banhos de mar. Quando a maré começou a subir, retornamos para o clube, tomamos nosso banho e íamos retornando para o Fandango quando vimos pescadores de uma lancha de pesca esportiva lotados de peixes. Todos estavam admirando os peixes quando o galho, onde eles estavam amarrados, quebrou. Um dos pescadores levou uma pancada na cabeça e o sangue começou a jorrar. Ainda bem que foi superficial e, após três pontos na cabeça, tudo voltou ao normal. Demos um pulo no shopping, andamos muito lá, mas não compramos nada. Após o passeio, cama!